sábado, 13 de agosto de 2011

Artigo publicado na revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos


No último número da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, dedicada a pesquisas nas áreas de história das ciências e história da saúde, saiu um artigo escrito por mim e pela professora Dominichi Miranda de Sá. O resumo, o link para as versões do artigo em português e inglês e uma das imagens presentes no artigo estão abaixo.

RESUMO

Analisa as relações entre doenças, conhecimento e ocupação do território na Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, mais conhecida como Comissão Rondon. A Comissão, entre 1907 e 1915, atravessou de sul a norte amplas regiões do que são hoje os estados de Mato Grosso, Rondônia e Amazonas, na faina de instalar linha telegráfica que seria responsável pela integração dessas regiões às principais cidades brasileiras. Ao longo do tempo, a malária, doença endêmica nas localidades percorridas, forçou a Comissão a abrir mão de alguns objetivos e a retardar a realização de outros. O impacto dessa doença nos trabalhos da Comissão, com destaque para a criação de um serviço sanitário primordialmente destinado a seu controle, é o foco deste artigo.

Palavras-chave: Comissão Rondon; telégrafo; território; malária; Brasil.

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702011000200010&script=sci_arttext






quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os brucutus donos da cultura




Na última sexta-feira, dia 01/07 fui, com outros professores, acompanhar um grupo de alunos do Colégio Maria Raythe a um passeio à Academia Brasileira de Letras (ABL). A expectativa era a de uma agradável visita a esta simpática instituição de nosso país que, de acordo com o artigo 1º de seu estatuto, ”tem por fim a cultura da língua e da literatura nacional”. Apesar de minhas ressalvas às visitas guiadas – muitas vezes enfadonhas e cheias de textos decorados e cuspidos diante dos alunos como palavras vazias jogadas ao vento – pairava sobre minha cabeça a ideia de que os alunos sairiam da visita com um interesse maior pela cultura literária. Ao final da visita, esta ideia mostrou-se ingênua e inteiramente equivocada.

Assim que chegamos, fomos bem recebidos pela equipe que nos guiaria pela visita. A responsável pelas visitas, Terezinha, mostrou-se, a princípio, bastante simpática comigo, e imaginei que tudo transcorreria sem maiores problemas. No entanto, bastou o início da palestra dos guias para começar a sentir algo de estranho no ar. Semblantes fechados, pedidos aos professores para que “controlassem” seus alunos e reprimendas deixaram, antes mesmo de nossa entrada no Petit Trianon, o ambiente tenso.

Assim que entramos no palácio teve início a apresentação teatral por meio da qual o espaço e a história da ABL nos seriam apresentados. Dois atores e uma atriz (belíssima, por sinal) cantaram músicas – ou poemas musicados – de autoria dos acadêmicos, informaram-nos sobre pequenos e divertidos incidentes entre eles e expuseram, através de um texto dinâmico e leve, os principais traços da Academia. Até aí, uma surpreendentemente boa visita guiada.

O problema é que tanto a responsável pela visita quanto os atores/guias e até mesmo os seguranças (em número inimaginável) não perderam nenhuma oportunidade de mostrarem-se grosseiros e indelicados com os alunos e, de modo geral, os visitantes. Sempre me incomodou a postura de alguns indivíduos e de algumas instituições culturais que se colocam num pedestal sagrado e passam a tratar o restante dos seres humanos como miseráveis incultos mendicantes de um pouco de “cultura”.

Aliás, eis uma palavrinha complicada... cultura. Sem querer entrar em discussões intermináveis sobre o conceito, não poderia deixar de tecer alguns comentários sobre o mesmo. Cultura não é uma coisa que algum indivíduo ou instituição de grande benevolência pode doar do alto de sua magnanimidade aos bárbaros que não a possuem. Todos os seres humanos que crescem fazendo parte de um grupo têm cultura. Um aborígene australiano do século XVII, uma socialite americana do século XXI e um monge erudito do século XV têm cultura. Aliás o homem já foi definido, pelo filósofo David Hume, como animal cultural.

Pois bem, esta não parece ser a noção de cultura partilhada pelos funcionários da ABL que nos guiaram. Para eles a cultura é algo mágico, esotérico, que alguns escolhidos (eles) possuem e outros (nós, seres obviamente inferiores) devem curvar-se para receber em doses homeopáticas numa espécie de ritual sagrado. E o que difere os “donos da cultura” dos “bárbaros mendicantes”? As palavras mágicas. “Machado de Assis”, “Rachel de Queiroz”, “Araripe Júnior”, “Graça Aranha” e até mesmo - pasmem! – “Roberto Marinho” e “José Sarney”. É o fato de pronunciarem estas palavras mágicas que diferenciam os iluminados funcionários da ABL – estes eruditos da decoreba – de nós, os sem cultura.

Mas o pior não é essa brilhante teoria – insustentável diante de qualquer indivíduo que possua suas faculdades intelectuais não comprometidas por qualquer doença degenerativa –, o pior é a sua conseqüência. Os donos da cultura arrogam para si o direito – eu diria o dever – de usarem todo e qualquer tipo de ameaça, constrangimento e desrespeito para que o ritual místico da doação de cultura não se contamine com qualquer tipo de emoção. Exclamações, risos, olhares de surpresa ou de curiosidade estão expressamente proibidos no ritual. Adolescentes curiosos devem se transformar em múmias paralíticas; jovens excitados devem tornar-se zumbis; professores interessados devem se converter em policiais. Todos devem abaixar suas cabeças como cordeiros para receberem a dádiva que lhes é ofertada. Talvez o escritor mais amado por nossos guias – se é que eles conhecem algum – não esteja na Academia Brasileira de Letras. Trata-se de um autor nascido na distante Bombaim: Rudyard Kipling, aquele do “fardo do homem branco”.

A nota positiva da visita ficou por conta do único Acadêmico com o qual pudemos travar contato. Atendendo a um pedido meu, que fui seu aluno há alguns anos atrás no curso de História da UFRJ, o professor José Murilo de Carvalho gentilmente se dispôs a, entre uma reunião e outra, conversar por alguns minutos conosco. Sua cortesia, respeito e atenção - e até mesmo sua fala mansa e baixa – contrastaram profundamente com a deselegância, desrespeito e arrogância dos funcionários da instituição. Ficou a impressão de que os acadêmicos estão muito mal representados por aqueles que lidam diretamente com o público desejoso de conhecer um pouco da ABL.

Ao final da visita, um misto de decepção, tristeza e indignação foi o que ficou. Indignação pelo desrespeito aos seres humanos que abriram mão de seu tempo livre numa tarde de sexta-feira para conhecer uma instituição e voltaram para casa cheios de vitupérios na bagagem. Tristeza por ver um trabalho até bem feito (quero lembrar que elogiei o texto e a encenação dos atores durante a visita) jogado por água abaixo em função da grosseria de pessoas sem o menor preparo para lidar com outras pessoas. Decepção porque tenho a convicção de que toda vez que os alunos passarem os olhos sobre o livro de algum Acadêmico, não sentirão simpatia e nem interesse em abri-lo. Antes disso, lembrarão dos insultos que sofreram durante a traumatizante visita. Ao invés de mais próximos, esses adolescentes estão, nesse exato momento, mais distantes da “cultura da língua e da literatura nacional” que a ABL deveria, de acordo com seu próprio estatuto, promover.

terça-feira, 31 de maio de 2011

A Revolução Russa no mundo contemporâneo.

Este post inaugura uma nova fase do blog, na qual serão publicados aqui resultados expressivos de trabalhos realizados sob a minha supervisão por diversos alunos com os quais aprendo história. E esta nova fase não poderia ser inaugurada de uma forma melhor. Apresento aqui o excelente trabalho sobre a Revolução Russa realizado pelos alunos Henrique Araújo e Matheus Andrade do nono ano do Colégio Maria Raythe. Aqui, além de apresentarem de forma concisa o que foi a Revolução Russa, Henrique e Matheus realizam uma reflexão bastante bem construída sobre a importância deste movimento para a história contemporânea.

Boa leitura!

A Revolução Russa no mundo contemporâneo



A Revolução Russa, 1917



A Revolução Russa



A Revolução Russa de 1917 ocorreu no momento em que o país estava envolvido na Primeira Guerra Mundial, mas as suas causas, para além da campanha desastrosa na guerra, foram a crise econômica, a instabilidade política e o descontentamento social que já estavam presentes na Rússia antes mesmo do conflito. Os principais capítulos deste aumento da tensão na sociedade russa do início do século foram o Domingo Sangrento, episódio no qual mais de 2 mil pessoas fizeram uma manifestação pacífica e foram massacradas pelas tropas do czar, a revolta do encouraçado Potemkim e o fortalecimento de vários grupos de oposição, como o Partido Social Democrata - que foi dividido em dois grupos: os bolcheviques e os mencheviques - e o Partido Anarquista.

Em 27 de março de 1917, uma revolução comandada pelos mencheviques tirou à força o czar Nicolau II do trono. Com a monarquia extinta, dois líderes socialistas bolcheviques voltaram à Rússia para tentar implantar o socialismo naquele país: Lenin e Trotsky. Enquanto os sovietes eram liderados por Lenin, Trotsky organizou um exército formado por trabalhadores e bolcheviques, chamado de Guarda Vermelha.

Em 6 de novembro iniciou-se a Revolução Bolchevique (também chamada simplesmente de Revolução Russa). Os operários tomaram vários pontos da cidade de São Petersburgo e cercaram a sede do governo, forçando Kerenski, líder dos mencheviques, à renúncia. Logo após a revolta, os sovietes escolheram os membros do Conselho dos Comissários do Povo. Em novembro de 1917, Lenin foi nomeado chefe de governo. Era, dessa forma, erguido o novo governo russo.



A Revolução Russa na contemporaneidade



Na política de hoje, o termo revolução se refere a movimentos e acontecimentos que acabam mudando a ordem social, econômica e política de um país, nação ou mesmo de todo o planeta. Foi o que ocorreu na Rússia, que eliminou as classes sociais, mudou seu tipo de economia, e alterou totalmente sua forma de governo, deixando de ser um império para tornar-se uma República Socialista. O novo governo russo teve sua economia e política baseadas nas ideias socialistas de Karl Marx e Friedrich Engels. Eles defendiam a ideia de que a luta de classes era o motor da história. Também acreditavam que a igualdade só aconteceria após o confronto entre exploradores e explorados, com vitória dos últimos e o domínio do Estado pelos operários, que transformariam o sistema capitalista em socialista e construiriam uma nova sociedade sem divisões de classes, o que foi colocado em prática na Rússia a partir de 1917.

A Revolução Russa foi a primeira no mundo a materializar as ideias socialistas, abolindo a propriedade privada. Além disso, houve o fortalecimento dos movimentos operários, a criação de partidos comunistas em todo mundo e o fortalecimento da bipolaridade ideológica: capitalismo (poder do mercado) x socialismo (poder do Estado).

Após a Rússia, vários países adotaram o socialismo, como a Mongólia e os países da Europa oriental: Iugoslávia, Hungria, Alemanha Oriental, Polônia, Bulgária, Tchecoslováquia e Albânia. Posteriormente, outros países também aderiram ao socialismo: China, Cuba, Vietnã, Camboja, Laos, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, entre outros. Embora a União Soviética tenha sido o modelo desse bloco de países, o socialismo não se aplicou da mesma forma em todos eles.

http://www.youtube.com/watch?v=3HWyK7bkGy4
Lenin discursando: O que é o poder soviético?

Fontes:

www.mundovestibular.com.br
www.cienciamao.usp.br
www.aticaeducacional.com.br
Livro História Moderna e Contemporânea – Volume Único – Ed. Ática, 2008.
Livro Panorama da História – 8º e 9º ano – Editora IBEP, 2006 e 2010.

Henrique Araújo e Matheus Andrade